Hidrogênio verde: por que rede elétrica pode colocar Brasil entre maiores produtores mundiais de 'combustível do futuro'
13/05/2025
(Foto: Reprodução) Estudo do CNPEM mostrou que sistema nacional difere do restante do mundo e coloca país à frente diante de exigências internacionais de produção; entenda. Indústria de processamento de lixo libera fumaça no meio ambiente em Bruxelas
Reuters/Yves Herman
A rede elétrica nacional é uma peça-chave para transformar o Brasil em um líder mundial na produção de hidrogênio verde, o “combustível do futuro”. É o que mostra um estudo do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), publicado na revista científica Applied Energy.
🏭 Por que isso importa? Porque o hidrogênio verde é considerado essencial para reduzir a poluição em setores difíceis de descarbonizar (ou seja, diminuir ou eliminar as emissões de carbono), como a siderurgia e o de combustíveis para longas distâncias.
“São áreas que hoje são dependentes de combustíveis fósseis e que o hidrogênio verde oferece uma alternativa tecnológica para que essas áreas se descarbonizem”, explica pesquisador Carlos Driemeier, que liderou o estudo.
Isso porque o hidrogênio verde é feito a partir da água, usando eletricidade para separar o hidrogênio do oxigênio. Quando essa eletricidade vem de fontes renováveis, como energia solar, eólica ou hidrelétrica, o processo não emite gases do efeito estufa.
O que torna o Brasil diferente?
Em primeiro lugar, o fato de que 90% da energia elétrica nacional é renovável, conforme detalha Driemeier. “Quando você faz uma comparação em escala global, não tem nenhum sistema desse porte, com essa extensão espacial, com essa porcentagem de renováveis”.
“O hidrogênio verde depende de uma expansão, de instalação de energia solar, de energia eólica, e isso o Brasil tem muito. O sol no Brasil é muito bom, o vento é muito bom em alguns lugares do Brasil. Mas tem lugares do mundo onde tem mais sol, onde tem mais vento. A característica da rede elétrica do Brasil é que realmente é diferenciada, comparada com o restante do mundo", completa.
Isso coloca o país em vantagem para cumprir uma exigência internacional: produzir hidrogênio verde exatamente nas mesmas horas em que há geração de energia renovável, o chamado “matching horário”. A regra existe para garantir que o processo não gere emissões de carbono em outro ponto da rede.
⏱️ Em outras palavras, não basta usar energia limpa. É preciso provar que ela estava disponível e sendo gerada no exato momento da produção do hidrogênio, evitando que, por trás do consumo de eletricidade, entre na conta alguma fonte poluente usada para suprir a rede em outro horário.
“Usamos o Brasil como um estudo de caso para recontextualizar a maneira como essas regras estão sendo escritas. Elas estão sendo escritas em outros países e o caso brasileiro é muito diferente do contexto em que essas regras internacionais foram inicialmente pensadas”, detalha Driemeier.
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Comparação do impacto
A pesquisa também destaca que, embora fontes renováveis gerem emissões de carbono devido à fabricação, instalação dos equipamentos e infraestrutura necessária, elas são muito menores quando comparadas às de fontes fósseis.
Para fins de comparação, a estimativa é de cerca de 1 kg de CO₂ equivalente por kg de hidrogênio produzido a partir de fontes renováveis, enquanto o hidrogênio produzido por combustíveis fósseis emite 11 kg de CO₂ por kg.
“Então, sim, mesmo que você inclua tudo isso na conta, você demonstra que sim, é possível produzir hidrogênio com uma pegada de carbono bastante baixa. Por causa das dimensões do sistema, das dimensões de Norte a Sul do Brasil”, explica o pesquisador.
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Mais produtos, mais empregos
Estar na vanguarda da produção de hidrogênio verde é um importante para o Brasil porque abre caminhos para a criação de novas indústrias, geração de empregos e ampliação da oferta de produtos com baixa emissão de carbono.
Para o pesquisador do CNPEM, isso é um desdobramento natural do papel que o país já exerce na transição energética e na descarbonização, com destaque para os biocombustíveis.
"No fim, são oportunidades de negócios, são novas indústrias que vão se desenvolver. Indústrias de baixo carbono que vão gerar receitas para o país, produzir produtos de baixo carbono e gerar empregos qualificados. Quer dizer, é toda uma cadeia de futuro que precisa surgir e crescer", destaca.
Próximos passos
O próximo passo da equipe do CNPEM será calcular os benefícios econômicos dessa vantagem estrutural brasileira. A ideia é investigar como as características do sistema podem reduzir os custos de produção do hidrogênio verde.
"Na medida que os requisitos mudam, na medida que você reconhece que a rede brasileira tem flexibilidades, tem ativos que permitem atuar de uma maneira diferenciada, a sua contabilidade econômica também muda de maneira favorável", complementa Driemeier.
Vista aérea do CNPEM, com destaque para o superlaboratório Sirius
CNPEM/Sirius/Divulgação
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