Assassinato de ex-delegado: veja o que se sabe e o que falta saber um mês após o crime
15/10/2025
(Foto: Reprodução) Ex-delegado-geral Ruy Ferraz e os oito suspeitos identificados
Reprodução, Prefeitura de Praia Grande e TV Globo
O assassinato do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes, que repercutiu em todo o Brasil, completa um mês nesta quarta-feira (15). Até o momento, cinco pessoas foram presas por envolvimento no crime, outras duas estão foragidas e um suspeito morreu em confronto com a polícia.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) segue conduzindo as investigações para identificar e prender todos os envolvidos.
O secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), também já confirmou o envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) na execução. Diante da repercussão, o g1 reuniu o que se sabe e o que falta esclarecer do caso.
O que se sabe?
Como foi o assassinato?
Quem são os envolvidos?
Quem era Ruy?
1. Como foi o assassinato?
Ex-delegado executado em SP estava sendo monitorado há mais de um mês, aponta investigação
Ruy foi morto na noite do último dia 15, após cumprir expediente como secretário de Administração da Prefeitura de Praia Grande. Conforme apurado pela TV Globo, ao menos 12 tiros de fuzil atingiram o ex-delegado. Imagens obtidas pelo g1 flagraram o início e a execução do crime.
O sistema de câmeras de segurança da Prefeitura de Praia Grande identificou que Ruy já estava sendo monitorado pelos criminosos há mais de um mês. Um dos veículos usados no crime foi flagrado no litoral paulista no dia 18 de agosto.
Além desse veículo, um carro e uma caminhonete também foram utilizados no crime. A caminhonete foi encontrada incendiada pela Guarda Civil Municipal (GCM), mas o carro foi localizado e passou por perícia para coleta de impressões digitais.
A Polícia Civil identificou que o grupo responsável pelo ataque utilizou casas alugadas. O primeiro imóvel investigado por ter ligação com os criminosos é uma residência em Praia Grande.
O outro fica em Mongaguá (SP) e também passou por coleta de impressões digitais. Ambos foram pichados com a frase "Justiça tarda + não falha" no final do mês de setembro. Veja mais detalhes da residência abaixo:
Imagens mostram casa usada como base para grupo que matou ex-delegado
2. Quem são os envolvidos?
A partir das impressões digitais, a Polícia Civil chegou aos primeiros suspeitos de participar do crime. Um deles foi Felipe Avelino da Silva, conhecido no PCC como Mascherano. O homem foi preso em Cotia (SP) no início do mês.
“Isso é um fato [o envolvimento do PCC]. A motivação é que ainda está em aberto”, disse Derrite à época.
Confira abaixo os nomes dos cinco presos até o momento:
Willian Silva Marques: dono da casa em Praia Grande de onde teria saído um fuzil que pode ter sido usado no crime, preso na madrugada de 21 de setembro;
Dahesly Oliveira Pires: foi presa em 18 de setembro por suspeita de ser a mulher que foi buscar o fuzil na Baixada Santista;
Luiz Henrique Santos Batista: conhecido como Fofão, está envolvido, segundo a polícia, na logística da morte do ex-delegado. Ele teria dado carona para que um dos criminosos fugisse da cena do crime e foi preso em 19 de setembro.
Rafael Marcell Dias Simões (Jaguar): Ele se entregou à polícia em 20 de setembro, em São Vicente (SP).
Felipe Avelino da Silva: conhecido no PCC como Mascherano, teve o DNA encontrado em um dos carros usados no crime; preso em Cotia em 6 de outubro.
Suspeitos presos morte ex-delegado Ruy Ferraz
Reprodução/Polícia Civil e TV Globo
Além dos cinco detidos, outras duas pessoas foram identificadas e estão foragidas:
Flávio Henrique Ferreira de Souza: também teve o DNA encontrado em um dos carros;
Luis Antonio Rodrigues de Miranda: é procurado por suspeita de ter ordenado que uma mulher fosse buscar um dos fuzis usados no crime.
Umberto Alberto Gomes: era procurado após a corporação encontrar digitais em uma casa que teria sido usada pelos criminosos em Mongaguá. Ele morreu em confronto com equipes da Polícia Civil do Paraná em 30 de setembro
Informações que possam levar às prisões dos foragidos podem ser dadas à polícia por meio do Disque-Denúncia, pelo número 181. Não é preciso se identificar.
Flávio Henrique Ferreira de Souza (à esq.) e Luis Antonio Rodrigues de Miranda (à dir.) estão foragidos; Umberto Alberto Gomes (ao centro) morreu em confronto com a polícia
TV Globo e Polícia Civil
3. Quem era Ruy?
Ruy Fontes foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022 e atuou por mais de 40 anos na Polícia Civil. Ele teve papel central no combate ao crime organizado e foi pioneiro nas investigações sobre o Primeiro Comando da Capital.
Nesse período, Ruy liderou a transferência de chefes do PCC de presídios paulistas para unidades federais em outros estados, medida considerada estratégica para enfraquecer o poder da facção dentro das cadeias.
Ruy se aposentou em 2023, mas deixar a polícia não o afastou das ameaças. O Fantástico teve acesso a um relatório de 2024, chamado “Bate Bola”, que detalhava planos de atentados contra autoridades. As ordens saíam de dentro dos presídios.
Entenda o que se sabe sobre a execução do delegado Ruy Ferraz Fontes
O que falta saber?
Quem atirou em Ruy?
Qual foi a motivação?
Qual a participação do PCC?
1. Quem atirou em Ruy?
Rafael Marcell Dias Simões, conhecido como Jaguar, se entregou no DP Sede de São Vicente
Marco Antônio/TV Tribuna
Derrite disse, em 26 de setembro, que o suspeito Rafael Simões, o Jaguar, é um dos atiradores. Os advogados Abraão Martins e Adonirã Correia, no entanto, negaram a participação dele. Um vídeo de monitoramento flagrou 'Jaguar' buscando a filha em uma escola de Santos no dia do crime.
Um dos outros atiradores, ainda segundo Derrite, seria Umberto Gomes - que morreu no confronto policial. A informação foi publicada pelo secretário momentos após a morte do suspeito, ao lado do delegado-geral Artur Dian.
A corporação, porém, não divulgou mais informações sobre os suspeitos que aparecem na cena do crime. Conforme os registros de monitoramento, ao menos quatro suspeitos estavam no carro que perseguiu Ruy Ferraz Fontes.
2. Qual foi a motivação?
A investigação sobre a execução do ex-delegado tem duas suspeitas principais para a motivação do crime:
Vingança em razão da atuação histórica de Ruy Fontes contra os chefes do PCC
Reação de criminosos contrariados pela atuação dele à frente da Secretaria de Administração da Prefeitura de Praia Grande.
“A gente não descarta as possibilidades. Se a execução foi motivada pelo combate ao crime organizado durante toda a carreira do delegado ou por conta de uma atuação atual como secretário municipal em Praia Grande", afirmou Guilherme Derrite em entrevista coletiva.
Conforme apurado pelo g1, a Polícia Civil investiga se uma licitação sobre a ampliação do sistema de videomonitoramento e Wi-Fi na Prefeitura de Praia Grande, com valor estimado de quase R$ 24 milhões, teria motivado a execução.
Cinco servidores da prefeitura, entre eles o subsecretário Sandro Rogerio Pardini, foram alvos de mandados de busca. A polícia apreendeu celulares e eletrônicos em uma investigação sobre possíveis irregularidades em contratos públicos, além de grande quantia em dinheiro.
Pardini pediu exoneração do cargo dias após o cumprimento dos mandados. Além dele, foram apreendidos itens de: um agente de fiscalização na Secretaria de Urbanismo; um servidor da Secretaria de Administração; um engenheiro na Secretaria de Planejamento e uma diretora de departamento na Secretaria de Planejamento.
Sandro Pardini (à esq.) foi um dos alvos dos mandados de busca e apreensão relacionados à execução do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes
Redes sociais e Prefeitura de Praia Grande
3. Qual foi a participação do PCC?
Fernando Gonçalves dos Santos, o "Azul" ou "Colorido"
Reprodução
Além das ameaças sofridas por Ruy, a Polícia Civil também investiga se Fernando Gonçalves dos Santos, conhecido "Azul" ou "Colorido", teve algum envolvimento no caso. Ele é apontado como um dos chefes do PCC na Baixada Santista.
Isso porque um dos itens citados no relatório obtido pelo Fantástico tratava de perseguição ao promotor de Justiça Lincoln Gakiya e Ruy Fontes, por conta da atuação de ambos contra o PCC.
“Ele me disse: ‘Doutor Lincoln, o senhor está mais tranquilo porque está muito bem protegido pela sua escolta. Eu, como aposentado, não tenho esse direito’”, relatou o promotor.
Em entrevista a um podcast do jornal O Globo em parceria com a rádio CBN, Ruy também demonstrou preocupação:
“Eu vivo sozinho aqui na Praia Grande, que é o meio deles. Se eu fosse um policial da ativa, teria estrutura para me proteger. Hoje, não tenho nenhuma.”
Segundo o governo de São Paulo, Ruy não chegou a pedir proteção. A legislação atual não prevê escolta para policiais aposentados. Ele também não usava carro blindado no momento do crime.
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